Blog dos colaboradores da revista Violão PRO - tudo que não cabe na revista cabe aqui. Também somos abertos para colaboração e mais legais, pois não precisamos pagar nem papel ou gráfica.
Musica das Gerais
História das Gerais
Abaixo segue um texto meu, escrito no anao retrasado, sobre a música mineira e dois de seus expoentes, Toninho Horta e Milton Nascimento, no formato de cronica, para o Site Brasil Pandeiro.
Há pouco tempo tive a oportunidade de partir num sábado à tarde para Belo Horizonte, num encontro de família.
Um fim de tarde mirando as paragens mineiras já seria suficiente, mas outra alegria me chegava aos ouvidos: música mineira. Depois de me deleitar com aquele som montanhês, tentei partir para o racional: como essa música foi se tornar assim tão peculiar? Não faltaram menções ao jeito mineiro de ser, ao fato das montanhas conspirarem a favor de tanta originalidade por isolarem, de certa maneira, aquela sonoridade ali.
O mineiro fica no quartinho, criando acordes “caseiros” e transcendendo as formas tradicionais. Por sorte, sua música vai ficando rica e leve e acaba saindo de lá por vontade própria, ganhando o mundo.
Dois desses “escultores do som” ganharam meu coração ao primeiro acorde ouvido e, sobre eles, gostaria de tecer alguns comentários:
Milton Nascimento, com a voz de mil negros juntos, traz o céu pra dentro de nossa alma ao se acompanhar com aquele mágico violão cheio de movimentos paralelos, blocos de som que a razão não doma, tão brasileiro, tão do mundo... Do menino que experimentava sons no acordeom num dos tantos quintais de Três Pontas surgiria “Cais” (Milton Nascimento / Ronaldo Bastos), canção tão singular, com movimentos livres de acordes menores, ora esbarrando em tons maiores para reforçar a idéia de liberdade, a escolha cantada de esperar a hora certa de partir... E o que dizer de “Maria, Maria” (Milton Nascimento / Fernando Brant), com aqueles acordes tão fortes, variando sob o mesmo baixo e aquela força na voz, traduzindo em fé tantas Marias que buscam um sorriso em meio a um céu de trevas. Milton nos mostra a dor e sua cura.
Toninho Horta cultiva acordes só seus e nunca o casamento de mãos hábeis e violão se fez tão frutífero. Há em sua música algo das raízes mineiras e algo que explode e que pode encontrar qualquer coração universal falando só pelo idioma da luz. “Vento” (Toninho Horta), do seu segundo disco, tem algo vasto, um sopro misterioso no coração reforçado pela seqüência inicial de acordes menores e segue numa valsa de acordes mágicos tão dele, movimentando luzes em nós. “Durango Kid” (Toninho Horta / Fernando Brant) é outra que me dá nó no coração... Tem aquela inconfundível levada de mão direita que o mestre Horta patenteou, com cadências sutis, lindos movimentos de baixo pra demarcar o recado no canto: “Esse jornal é o meu sorriso...” quantas boas lembranças essa música me traz...
Ao pensar na concepção musical desses dois gênios penso que em Milton, só a melodia já me bastava, tamanha a força de seu canto e no caso do Toninho, o que me chega antes é a rica harmonia, cheia de surpresas que indicam um caminho feliz. Mas nenhum dos dois caberia num rótulo de cancionista ou instrumentista. São modernos herdeiros do barroco mineiro, almas onde o som chegou antes da razão...
Não poderia deixar as Gerais sem mencionar Lô Borges e Beto Guedes, mineiros de alma plural – que mora no rock dos Beatles, na bossa deixada por Tom, nos devaneios da cachaça da terra. Daí vem o Tavinho Moura, O maestro Tiso, a turma do 14 Bis... Deles eu falo um outro dia.
Penso então que a música mineira é isso: melodias lindas, ingênuas, sobre um fundo harmônico rico, misterioso, subjetivo... Mas sei que isso não basta. Não se explica tamanha beleza e o carinho no ouvido proporcionado por notas tão sábias.
Calo-me, então e agradeço pelo som numa longa respiração, pedindo para a vida mais tardes como essa e concluindo: o cérebro não comporta essas canções, elas nasceram para morar em nosso coração.
Abaixo segue um texto meu, escrito no anao retrasado, sobre a música mineira e dois de seus expoentes, Toninho Horta e Milton Nascimento, no formato de cronica, para o Site Brasil Pandeiro.
Há pouco tempo tive a oportunidade de partir num sábado à tarde para Belo Horizonte, num encontro de família.
Um fim de tarde mirando as paragens mineiras já seria suficiente, mas outra alegria me chegava aos ouvidos: música mineira. Depois de me deleitar com aquele som montanhês, tentei partir para o racional: como essa música foi se tornar assim tão peculiar? Não faltaram menções ao jeito mineiro de ser, ao fato das montanhas conspirarem a favor de tanta originalidade por isolarem, de certa maneira, aquela sonoridade ali.
O mineiro fica no quartinho, criando acordes “caseiros” e transcendendo as formas tradicionais. Por sorte, sua música vai ficando rica e leve e acaba saindo de lá por vontade própria, ganhando o mundo.
Dois desses “escultores do som” ganharam meu coração ao primeiro acorde ouvido e, sobre eles, gostaria de tecer alguns comentários:
Milton Nascimento, com a voz de mil negros juntos, traz o céu pra dentro de nossa alma ao se acompanhar com aquele mágico violão cheio de movimentos paralelos, blocos de som que a razão não doma, tão brasileiro, tão do mundo... Do menino que experimentava sons no acordeom num dos tantos quintais de Três Pontas surgiria “Cais” (Milton Nascimento / Ronaldo Bastos), canção tão singular, com movimentos livres de acordes menores, ora esbarrando em tons maiores para reforçar a idéia de liberdade, a escolha cantada de esperar a hora certa de partir... E o que dizer de “Maria, Maria” (Milton Nascimento / Fernando Brant), com aqueles acordes tão fortes, variando sob o mesmo baixo e aquela força na voz, traduzindo em fé tantas Marias que buscam um sorriso em meio a um céu de trevas. Milton nos mostra a dor e sua cura.
Toninho Horta cultiva acordes só seus e nunca o casamento de mãos hábeis e violão se fez tão frutífero. Há em sua música algo das raízes mineiras e algo que explode e que pode encontrar qualquer coração universal falando só pelo idioma da luz. “Vento” (Toninho Horta), do seu segundo disco, tem algo vasto, um sopro misterioso no coração reforçado pela seqüência inicial de acordes menores e segue numa valsa de acordes mágicos tão dele, movimentando luzes em nós. “Durango Kid” (Toninho Horta / Fernando Brant) é outra que me dá nó no coração... Tem aquela inconfundível levada de mão direita que o mestre Horta patenteou, com cadências sutis, lindos movimentos de baixo pra demarcar o recado no canto: “Esse jornal é o meu sorriso...” quantas boas lembranças essa música me traz...
Ao pensar na concepção musical desses dois gênios penso que em Milton, só a melodia já me bastava, tamanha a força de seu canto e no caso do Toninho, o que me chega antes é a rica harmonia, cheia de surpresas que indicam um caminho feliz. Mas nenhum dos dois caberia num rótulo de cancionista ou instrumentista. São modernos herdeiros do barroco mineiro, almas onde o som chegou antes da razão...
Não poderia deixar as Gerais sem mencionar Lô Borges e Beto Guedes, mineiros de alma plural – que mora no rock dos Beatles, na bossa deixada por Tom, nos devaneios da cachaça da terra. Daí vem o Tavinho Moura, O maestro Tiso, a turma do 14 Bis... Deles eu falo um outro dia.
Penso então que a música mineira é isso: melodias lindas, ingênuas, sobre um fundo harmônico rico, misterioso, subjetivo... Mas sei que isso não basta. Não se explica tamanha beleza e o carinho no ouvido proporcionado por notas tão sábias.
Calo-me, então e agradeço pelo som numa longa respiração, pedindo para a vida mais tardes como essa e concluindo: o cérebro não comporta essas canções, elas nasceram para morar em nosso coração.
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